Dia desses, num almoço de aniversário de uma Tia muito querida, provei um Gazpacho na entrada que estava divino. Percebi que era uma receita "um pouco" diferente, tinha algo especial, algum pitaco que eu desconhecia. Soube depois que era uma receita do Ferran Adrià que foi testada, aprovada e divulgada pela equipe do Paladar.
É uma das receitas do livro The Family Meal, de Ferran Adrià. Não é um livro sobre comida caseira.
É a recolha das receitas dos menus servidos aos 75 membros da equipa do El Bulli - chefs incluídos - durante os seis meses anuais de abertura ao público.
"As pessoas espantam-se frequentemente quando sabem que comemos comida vulgar", diz-se no prólogo, contrariando a ideia de que o staff comeria o mesmo tipo de elaboradas criações que fizeram a justa fama do restaurante. Obviamente impossível, se considerarmos o tempo de preparação necessário, o tempo de degustação e os custos associados.
"Nós acreditamos que quem come bem, cozinha bem". Onde se poderá esperar comer bem se não no que foi considerado vezes suficientes o melhor restaurante do mundo?
A "refeição da família", assim a denominam. Família porque se consideram uma família. Da família corporativa à família de cada leitor foi um passo lógico e assim surgiu este livro, direccionado a todos, experientes ou menos experientes.
Então vamos a uma das receitas clássicas do livro e da gastronomia espanhola:
Gazpacho do Ferran Adrià
Ponha um pouco de água numa panela e 3 dentes de alho descascados. Quando ferver, tire o alho e jogue-o numa tigela com água e gelo. Repita duas vezes o procedimento e leve ao liquidificador.
Descasque e pique 2 cebolas, 60g de pepino, 60g de pimentão, 1 kg de tomates e junte ao alho no liquidificador. Adicione 60g de pão sem casca, 1/2 xícara de água, 1/2 xícara de azeite, 2 colheres (sopa) de vinagre de Jerez, 1 colher (sopa) de maionese e bata.
Peneire e leve à geladeira por duas horas. Antes de servir, corte em cubos 240g de pão branco sem casca e frite em duas xícaras de azeite. Escorra e ponha sobre o gazpacho.
Origem do GAZPACHO
Gaspacho tem origem no castelhano gazpacho e designa uma sopa fria com base em vegetais, confeccionada no Sul da Península Ibérica, nomeadamente na Estremadura e Andaluzia no País vizinho, no Alentejo e Algarve em Portugal, ainda que o seja também no México e outros países da América Central por influência espanhola.
O gazpacho é uma sopa fria muito tradicional na Espanha. Símbolo da culinária andaluzia acredita-se que esse prato teve origem entre as famílias mais humildes. Com sobras de pães, azeite de oliva, vinagre e alguns legumes e hortaliças sempre frescos, os espanhóis menos favorecidos preparavam esta sopa.
sobre gaspachos temos a grande referência internacional que é o espanhol. A Andaluzia reclama para a sua região a autoria desta receita e que, alguns autores, encontram origem nos árabes que aí estiveram estabelecidos. Gaspacho quererá dizer “pão demolhado”. Curiosamente Mikel Corcuera atribui este nome de gaspacho a uma designação portuguesa caspacho (?), palavra proveniente da ocupação pré-romana, caspa, que significava “pequeno fragmento”. O mesmo autor sugere o século XVII como o período da primeira referência a gaspacho. Quanto à sua origem árabe terá que se reflectir bem pois os árabes abandonaram esta região antes que o tomate e os pimentos, hoje fundamentais, chegassem das “Américas”. Os sevilhanos dizem que o gaspacho é seu. Muitos espanhóis sugerem que o gaspacho teve origem no “Ajoblanco”, sopa fria com alhos pisados com amêndoas, migas de pão, azeite, vinagre e termina-se juntando água gelada. Ainda se podem juntar uvas de preferência casta moscatel. Para além desta variante podemos encontrar muitas variedades de gaspachos andaluzes com a particularidade de apenas variar pequenos detalhes. Claro que o que hoje em dia encontramos é um creme espesso e frio. Possivelmente os primeiros gaspachos eram feitos com a mistura dos produtos e sempre mais pão. Mas o gaspacho espanhol / andaluz ultrapassou fronteiras e encontramos a designação gaspacho para identificar uma técnica de confecção de sopas frias. É o caso do famoso Gaspacho de Lavagante do restaurante do Parc dês Eaux-Vives, de Genève.
Momentinho cult na cozinha...
Já que o assunto é Gazpacho, impossível não mencionar o filme "Mujeres al borde de un ataque de nervios", em português "Mulheres à beira de um ataque de nervos", é um filme espanhol de 1988, do gênero comédia, dirigido pelo célebre Pedro Almodóvar.
O Gazpacho é personagem decisivo no excepcional “Mulheres a Beira de um Ataque de Nervos” de Pedro Almodovar.
No filme, o seu preparo é feito com close nos ingredientes pela protagonista Pepa (Carmen Maura) que corta com uma faca grande de cozinha o tomate, os pimentões, o pepino e os demais ingredientes, batendo tudo no liquidificador com comprimidos para dormir, com os quais pretendia impedir que seu ex-amante viajasse com outra mulher.
Quando seu apartamento é invadido pela ex-mulher de seu amante saída de uma clínica psiquiátrica e armada com um revólver , por uma amiga fugindo da polícia por ter se envolvido com terroristas xiitas , por um casal que procurava apartamento para comprar (onde o rapaz, Antõnio Banderas era filho de seu amante) , pelo funcionário da telefônica que tinha ido consertar o telefone que havia sido arrancado e finalmente pela polícia que investigava uma denúncia sobre os terroristas que viera do telefone deste apartamento , Pepa não tem vacila: oferece “Gazpacho para todos!”.
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